Primeiramente é importante esclarecer que o medo é uma emoção natural e positiva quando bem dosado. Graças a ele estamos vivos e prontos para enfrentar dificuldades e desafios. O problema é o medo exacerbado, ou fobia, aquele que fugiu do nosso controle, domina os pensamentos e limita as ações. O medo de voar pode ter diversas causas: experiências em viagens, medo adquirido dos pais ou parentes, medo gerado por notícias catastróficas e alarmistas (“especialistas” apocalípticos e mídia sensacionalista), entre outros. E há também aquele medo que chamo de transitório, que aflora em situações de desastres, quando é natural que fiquemos vulneráveis e temerosos, mas, com o passar do tempo, esse medo enfraquece naturalmente.
Ao contrário do que eu imaginava apenas um pequeno percentual dos clientes vivenciou alguma situação de desconforto ou perigo com o avião. A grande maioria relata um medo surgido “do nada”. Aliás, os medos associados a panes, turbulências, etc., são mais fáceis de combater, pois, quando se conhece essa fantástica maquina voadora, os mecanismos de segurança, capacitação dos tripulantes, etc., fica fácil entender por que ele é um dos meios de transporte mais seguros que existe. A questão é quando não sabemos “de onde vem o perigo”, ou de que, exatamente, tenho medo. Esse medo “genérico”, digamos assim é mais complicado. Como combater algo que desconheço? Por isso é importante um bom mergulho nas causas e fatores desencadeadores do medo, conhecendo melhor o inimigo, fico mais preparada para enfrentá-lo.
São pessoas na faixa etária de 28 a 45 anos, com pequena predominância de mulheres, com profissões variadas: empresários, executivos, artistas, médicos, psicólogos, juízes, auditores, profissionais de TI, consultores, etc. Geralmente pessoas com bom nível intelectual e social. Geralmente quem tem medo muito acentuado, faz ou já fez tratamento com psicólogo ou psiquiatra, o que é uma combinação muito boa com o curso.
Chamamos de treinamento. Como acreditamos que o medo segue um padrão, um roteiro previsível e comum, treinamos o corpo e a mente para quebrar essa cadeia de stress, refazer o caminho. Para isso, usamos três estratégias: informação (medo e avião), autoconhecimento e relaxamento. As informações atuam como freio nas fantasias, o autoconhecimento favorece a mudança de certos comportamentos geradores de stress e o relaxamento trata das consequências físicas e emocionais (tremores, suores, taquicardia, corpo tenso, pensamentos recorrentes, etc.).
Ao longo de dez anos investimos na renovação e atualização do presencial. O online surgiu da experiência em auxiliar as pessoas que estavam fora do Rio de Janeiro e em outros países, que mandavam e-mails ou telefonavam pedindo ajuda para viajar. Cada um tinha uma dificuldade, um histórico e comecei a escrever textos e mais textos, sugerir exercícios, etc., Surpreendentemente os resultados foram muito positivos e com essa experiência criamos o online.
Basicamente as informações sobre medo de voar, avião e condições de voo são as mesmas. A diferença é decorrente da metodologia, pois no online a interação é mais limitada e ocorre por e-mail. Por conta disso alguns exercícios de autoconhecimento e relaxamento são aplicados apenas no presencial. O presencial proporciona uma vivencia mais intensa das atividades prática, inclusive o uso do laboratório de voo.
É um espaço criado com a finalidade de auxiliar no controle das reações à viagem de avião. Chamamos de laboratório, pois a finalidade é de vivenciar, treinar, preparar o corpo e mente para a viagem. Há tempos venho testando alguns exercícios que remetem à viagem, que geram desconforto. Como os resultados foram bastante positivos, aperfeiçoei a ideia e criamos o conceito de “laboratório”. Apoiados por recursos visuais e auditivos, reproduzimos algumas etapas da viagem, situações rotineiras e também aquelas que podem gerar algum stress como turbulências, tempestades, etc. É também uma forma de familiarização com alguns elementos da viagem, para aqueles que nunca pisarem num avião e tem, alem do medo, a expectativa decorrente do desconhecimento da rotina de uma viagem.
A princípio criei o online pensando que seria mais adequado para níveis de medo leve a moderado, ficando o presencial para medos mais intensos. Mas a prática mostrou que há outros aspectos a considerar. Por exemplo, a disciplina para estudar sozinho, fazer exercícios, etc. que é uma exigência do online. Tive clientes com medo bem alto que se saíram muito bem com o online, enquanto outros necessitam de mais estímulo. Então, tudo é relativo. Penso que resultado depende muito da dedicação, disciplina e disponibilidade.
Não gosto muito de falar de índices. Há clientes que querem quase uma “garantia” de sucesso e tenho certeza que fariam o curso imediatamente se soubessem dos nossos resultados. As pessoas precisam entender que é um trabalho conjunto, que, como toda mudança, será necessário uma boa dose de dedicação. Já deixei de dar um curso, pois a pessoa “era ocupadíssima”. Era recado com assessor, secretária, motorista. Desisti de dar o curso e disse a ela que quando tivesse tempo me procurasse. Preciso de pessoas engajadas, motivadas e dispostas a se perceberem, pois é nessa energia que trabalho. Gente que não se prioriza, ou se “terceiriza”, não vai se beneficiar com o programa. Mas, o índice de sucesso é surpreendentemente alto. Mais de 90% consegue viajar com mais tranquilidade após o curso, alguns até viajando pela primeira vez a vida. E nos 10% restantes estão pessoas que ainda não tiveram coragem ou não quiseram viajar, ou seja, o índice pode ser ainda maior.
Dentre as várias definições de hipnose, creio que esta, da Sociedade Brasileira de Hipnose, define claramente seus propósitos: “Hipnose abrange qualquer procedimento que venha causar, por meio de sugestões, mudanças no estado físico e mental, podendo produzir alterações na percepção, nas sensações, no comportamento, nos sentimentos, nos pensamentos e na memória.”. Sou uma entusiasta com os bons resultados dessa prática, que estudo e aplico há alguns anos, inclusive para outras finalidades, alem do medo de voar. Mas, apesar da hipnose ser reconhecida e autorizada pelos conselhos de medicina, psicologia, odontologia, etc. e dos excelentes resultados, ainda é mistério para alguns e enfrenta as consequências decorrentes do desconhecimento do seu potencial. Por isso, optei por colocá-la à parte. É um complemento ao curso, assim como o voo em simulador de voo.
Não acompanho muito, mas sei que o nosso curso foi pioneiro no Rio de Janeiro. E creio que ainda somos os únicos com esta abordagem. Há profissionais tratando o medo de voar, o que é muito importante. Mas, associado a isso, é necessário também conhecer também o avião, as condições de voo, etc. Assim como recomendo que certos níveis de medo tenham um acompanhamento psicológico, também recebo indicação desses profissionais para o curso. Quanto ao diferencial, creio que é reunir num mesmo programa, dois profissionais que tiveram a oportunidade de conhecer os bastidores da aviação e que ainda atuam nesse mercado tão inovador e desafiante. Um privilégio! Outro diferencial? Os resultados.
Foram vários. A maioria está nos depoimentos. Mas um dos mais emocionantes foi de uma profissional que teve síndrome de pânico e não viajava há uns dois ou três anos. Contava com a cumplicidade dos colegas. Um dia apenas foi avisada que faria uma viagem e que o diretor de RH estaria junto. Imediatamente percebeu que seu emprego corria perigo e me procurou dias antes, apavorada. Nossa empatia foi imediata e fiz uma programação bem estruturada às necessidades dela. No dia da viagem caiu uma tempestade daquelas e ela por vezes pensou em desistir. Falamos até ela entrar no avião. E lá foi ela. Eu na expectativa. Mas o melhor de tudo foi quando ela me ligou (assim que o avião pousou), rindo muito. O tal diretor de RH simplesmente morria de medo de tempestade e durante a viagem ela foi explicando para ele “porque o avião não ia cair”. Tem ainda a pessoa que não viajava há dez anos e que somente recentemente eu soube que já está viajando, pois me indicou uma cliente. O pai que finalmente conseguiu levar os filhos à Disney, sendo um de nove e outro de onze anos. O casal que não teve lua de mel e que quando conseguiu superar o medo levou a “tiracolo” a filha de seis anos. Enfim, são muitas histórias, e a gente acaba se envolvendo em algumas. Às vezes ficam laços, em outras o cliente prefere “apagar” que um dia teve medo. E a gente respeita. Mas é maravilhoso viver essas histórias, fazer parte delas.
Como sempre digo, quem sabe se está pronto para viajar é a própria pessoa. Cada um tem um ritmo e um tempo. Já tive clientes de São Paulo e Minas Gerais que vieram de ônibus e voltaram de avião. Vieram determinados a isso. Outras preferem planejar com mais antecedência, fazem o curso e mais perto da viagem retomam o contato para alguns exercícios preparatórios para a viagem. De qualquer modo, é sempre bom ter em mente uma meta, é mais estimulante.
O medo de voar, ou qualquer outro precisa e deve ser enfrentado. De modo geral, quando o medo é muito forte, traz muito sofrimento, impede a pessoa de cumprir seus compromissos, prejudica o lazer, etc., é bom procurar ajuda de um psicólogo. É que o medo às vezes tem razões mais complexas que requerem intervenções que fogem da proposta do nosso programa.
Sim, uma cliente que precisava viajar para a Europa (já tinha a passagem). O problema é que ela até conseguia viajar, mas “cruzar o Atlântico, nem pensar. Verdadeiro pavor”. Nunca havia enfrentado isso. Mas era um desafio profissional. Expandir a carreira ou não. Além disso, não havia tempo (e agenda) para o presencial. Optamos pelo online. Apesar do online não prever contatos telefônicos, a conversa por e-mail evoluiu falamos algumas vezes ao celular, inclusive até ela entrar no avião. Brinquei com ela pedindo fotos “lá de cima”, onde se vê as melhores paisagens e ela disse que se conseguisse viajar já era uma vitória, mas tirar fotos... Sem chance!! Nem pensar ver o céu, o mar. Bom, ela foi a dois países, ganhou premio em um deles e de lá pra cá sua agenda na Europa é constante. Ah, e recebi fotos de um lindo céu.
Acho que é compartilhar a conquista. Dividir a felicidade. No presencial é muito comum ficarmos conectados e vou acompanhando as inseguranças, dificuldades, etc. Quando o avião pousa, geralmente recebo uma mensagem contando como foi. É sempre um momento muito emocionante, pois sei o que significa para aquela pessoa essa superação. Alguns relatam viagens quase milagrosas de tão tranquilas, outros vão com um pouco mais de dificuldades, mas vão! No ultimo caso, havendo ainda algum resíduo de stress no voo, recomendo algumas atividades pontuais e a pessoa tem oportunidade de fazer o voo de volta ainda mais tranquilo que a ida.
Porque o medo é uma emoção e emoções ignoram estatísticas, fatos e dados. Precisamos da informação para não “dar asas à fantasia”, ao perigo inexistente. Mas se pessoa se tornar uma “perseguidora de informações, às vezes trágicas, sobre avião e voo”, vai agravar o stress. Tem que haver um equilíbrio, combater também os sintomas físicos e emocionais. É uma combinação de ações que levam a uma mudança de percepção, de atitude, conhecimento e compreensão. É esse o nosso foco.
Acidentes aéreos são sempre resultado de um somatório de fatores e nunca de uma causa isolada. Por esta razão, descobrir a real causa de um acidente leva tempo nas mãos de técnicos altamente especializados em investigação. Mas, por outro lado, a mídia tem necessidade de manter viva a notícia nos primeiros momentos ainda sob o impacto emocional. Querem descobrir de imediato as causas e apontar um culpado. Para isso lançam mão de recursos muitas vezes amadores, através de entrevistas com pessoas que não tiveram acesso aos laudos, surgindo daí conclusões precipitadas, muitas vezes relacionadas com tempestades, turbulências, enfim, carregadas de “achismos”.... Infelizmente, esta é a informação que fica registrada na memória de quem assiste, muitas vezes sob o impacto de um momento de emoção. A verdade geralmente vem meses mais tarde, já sem impacto emocional, com menos destaque na mídia, e, invariavelmente, diferente das especulações iniciais.